Como saber se minha filha tem transtorno alimentar?

Os casos de transtorno alimentar normalmente aparecem na puberdade, sendo mais frequentes em adolescentes do sexo feminino. Como pai ou mãe, é importante estar atento aos sinais. Entenda por que.

A maioria das pessoas associam a ideia de transtorno alimentar a imagens de pessoas com aparência cadavérica; ou, então, acreditam que a fixação por emagrecer durante a adolescência é algo passageiro, tratando-se de uma fase ou vaidade. A psicóloga Maitê Hammoud conduz a discussão sobre o tema.

É importantíssimo que os pais tenham conhecimento sobre o assunto, para serem sensíveis à percepção de que suas filhas podem estar desenvolvendo um grave transtorno, que a longo prazo, além de causar inúmeros prejuízos sociais e psíquicos, pode também acarretar diversas doenças como depressão, ansiedade, anemia, úlcera, desnutrição, perda de densidade óssea, arritmias cardíacas e muitas outras.

Os transtornos alimentares são três vezes mais comuns em adolescentes do sexo feminino do que do masculino. Normalmente, o início ocorre durante a chegada da puberdade e suas causas podem estar atribuídas principalmente a eventos estressores, tais como divórcio dos pais, bullying, mudança de escola ou de residência, fracasso escolar, ou ainda problemas psíquicos relacionados com baixa autoestima e temor de reprovação, tanto de sua família quanto de seu grupo de amigos.

O que é um transtorno alimentar?

Transtorno alimentar é sinônimo de perturbações persistentes na alimentação. Dois deles são mais comuns entre os jovens, a bulimia e a anorexia. Veja abaixo com suas principais características:

Anorexia

A anorexia possui três características essenciais:

  • restrição persistente da ingesta calórica;
  • medo intenso de ganhar peso, de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso;
  • perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma do corpo.

Bulimia

As principais características da bulimia são:

  • episódios recorrentes de compulsão alimentar;
  • comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho de peso;
  • autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporal.

Vale ressaltar que muitas jovens com bulimia apresentam peso ideal ou sobrepeso, o que faz os pais normalmente descartarem a possibilidade do transtorno alimentar, sem cogitar a necessidade de ajuda ou gravidade que os comportamentos característicos do transtorno podem causar à saúde.

Sinais de alerta

Há uma série de comportamentos que podem ser sinais de alerta de que sua filha possa estar desenvolvendo ou possua algum desses transtornos alimentares:

  • Diminuição drástica na quantidade de alimentos ingeridos.
  • Hábito de pular refeições.
  • Substituição de refeições por copos de água, bolachas água e sal ou outro alimento que possua baixo valor calórico.
  • Realização de jejuns por um ou mais dias.
  • Frequentemente utilizam argumentos sobre dietas da moda para justificar seu comportamentos ou obsessões.
  • O medo intenso de engordar faz com que se esquive de alimentos mais calóricos, tais como massas, tortas ou sobremesas.
  • Por possuírem distorção de seu peso e imagem corporal, mesmo com peso adequado ou abaixo da média, queixam-se ou mostram-se deprimidas com sua imagem por se sentirem acima do peso.
  • Fazem críticas à sua imagem, peso e às roupas que parecem nunca “cair bem”.
  • Realizam exercícios físicos de forma excessiva.
  • Algumas, por se sentirem extremamente desconfortáveis com seu peso e corpo, tendem a usar roupas folgadas ou casacos, mesmo em dias de calor, para esconder curvas e gorduras (existentes apenas em sua percepção).
  • Realizam pesagens frequentes, às vezes mais de uma vez ao longo do dia.
  • A perda de peso sempre é acompanhada de estado de êxtase, sendo vista como exemplo de sucesso e disciplina.
  • Realizam contagem obsessiva de calorias através de anotações ou aplicativos.
  • Medição frequente de partes do corpo onde existe maior acúmulo de gordura.
  • Sentem desconforto ao alimentar-se publicamente, muitas vezes fazendo-o de forma extremamente devagar e procurando buscar conversas capazes de tirar o foco da ingestão de alimentos. Ao final da refeição, justificam que não estavam com fome.
  • Usam métodos que evitem o ganho de peso após a ingestão dos alimentos, tais como indução de vômitos, uso de laxantes e/ou diuréticos. Nos casos de indução do próprio vômito é comum que durante a ida ao banheiro sejam deixados o chuveiro ou a torneira da pia ligada, com a intenção de amenizar o som da indução do vômito. Nos casos de uso indevido de laxantes ou diuréticos, o uso excessivo do banheiro pode chamar a atenção.
  • Como nos casos de bulimia existem episódios de compulsão alimentar, é comum que a jovem esconda em seu quarto restos de comida ou embalagens vazias e faça estoque de alimentos, frequentemente doces.
  • Nos históricos de busca do navegador de seu computador e celular é comum estarem pesquisas relacionadas a técnicas de emagrecimentos, dietas e até mesmo os termos “Ana” e “Mia”, correspondentes a anorexia e bulimia. Os termos normalmente levam a blogs de outras jovens que fornecem técnicas e ideias que podem auxiliar no processo de emagrecimento através de transtornos alimentares. Muitas destas blogueiras são idolatradas, fazendo com que suas seguidoras, além de acatar suas orientações, busquem um referencial de beleza indevido e doentio.
  • É comum estarem em suas paredes, agendas e papel de parede do computador imagens de modelos, cantoras ou atrizes que servem para essas jovens como um referencial de beleza

Tratando os transtornos alimentares

Adolescentes possuem dificuldade para pensar a longo prazo, e normalmente não têm a percepção dos graves problemas que os transtornos podem trazer para a sua saúde. Por isso, descartam todo e qualquer risco em seus comportamentos. Portanto, o olhar sensível dos pais em relação ao assunto torna-se fundamental.

A maioria das jovens que possui transtorno alimentar demonstra intenso incômodo ao abordar o assunto ou ser questionada, manifestando reações emocionais intensas, impulsividade e constrangimento. É importante que seja proporcionado acolhimento por parte dos pais, expressão de suas preocupações e fundamentação da gravidade do transtorno a longo prazo, possibilitando o entendimento da jovem.

De imediato, é vital que os pais estejam aptos a buscar profissionais adequados na demanda do tratamento. Os profissionais poderão não só viabilizar o diálogo entre pais e filhas, como também iniciar o tratamento capaz de propiciar a construção da autoestima e alteração dos comportamentos, visando o bem-estar físico, psíquico e social.

O indicado para o tratamento de transtornos alimentares é que seja realizado por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, psiquiatra, clínico geral e nutricionista.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com