Suicídio e dados estatísticos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou os dados estatísticos sobre depressão e mortes causadas por suicídio. Infelizmente os números carregam um pedido de socorro por conscientização.

Não é necessário estarmos vivendo o momento das campanhas de janeiro branco ou do setembro amarelo para que este tema se torne presente novamente. Os últimos dados estatísticos da Organização Mundial da Saúde (OMS) referente às mortes causadas por suicídio carregam um pedido de socorro através da conscientização.

Antes de qualquer texto que remeta a conscientização sobre a necessidade de um novo olhar e intervenções emergenciais, vamos direto aos fatos, pois diante dos fatos não existem argumentos:

  • A taxa de suicídios cometidos aumentou 60% desde 1980;
  • O Brasil registrou 11.433 mortes por suicídio em 2017 – em média, um caso a cada 46 minutos;
  • Nos últimos 5 anos, 48.204 pessoas tentaram suicídio segundo registros de entradas em hospitais – e por se tratar de um diagnóstico inicial estimam-se números superiores a estes;
  • Em números absolutos, O Brasil é o oitavo país com o maior número de suicídios no mundo segundo ranking divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS);
  • Ainda sobre as estatísticas fornecidas pela OMS: o suicídio é a segunda causa de morte mais frequente entre jovens que possuem de 15 a 29 anos;
  • A saúde mental no Brasil ainda engatinha com dificuldades dentro de um modelo de saúde precário e ineficaz, contribuindo com que os resultados não sejam diferentes: no Brasil, aproximadamente 11 milhões de pessoas foram diagnosticadas com depressão, equivalendo a 6% da população.
  • É o número 1 da doença no ranking da América Latina e o número 2 no ranking das Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

Quais podem ser as causas?

É o bullying? Pode ser também.

É a ausência da família que necessita estar fora dia e noite para o sustento da casa e dos estudos? É também.

É dizer que é “mimimi” e frescura de adolescente? É também.

É dizer que “é coisa da idade” e que logo passa? É também.

É dizer que os jovens não querem nada com nada e se entorpecem de drogas todos os dias? É também.

É o antigo mito de que “Aquele que quer se matar não fala, faz.”? É também.

É a falta de apoio profissional nas escolas, intervindo e proporcionando cuidados individuais? É também.

É a falta de empatia e compreensão de depressão como doença? Principalmente.

Suicídio e dados estatísticos

É um pouco de cada um, todos juntos, misturados, separados… mas o resultado vem sendo este: os números não caem, crescem. Há algo errado que exige medidas emergenciais. Ou devemos nos acostumar com o fato que a cada 46 minutos uma família enterra seu filho que desistiu de viver?

A importância da conscientização

Não podemos tratar algo tão grave como passageiro ou corriqueiro. A conscientização está defasada, pode ser tudo aquilo que a pouco mencionei, mas o principal é que suicídio ainda é um tabu.

Ninguém quer falar sobre suicídio, ninguém quer pensar que na nossa família também pode acontecer, ninguém quer admitir pra si mesmo que estereótipos necessitam ser quebrados de uma vez por todas e que não é regra a exposição a um grande trauma para sofrer de depressão ou sofrer por um impulso no ato desesperado de desistir da própria vida com a esperança de que sua dor e dúvidas morram junto ao seu corpo.

O fato mais importante a se conscientizar é este: 9 em 10 suicídios podem ser prevenidos. Se mudarmos o olhar, a postura e de fato nos preocupar porque acontece na nossa família sim, rapidamente as estatísticas despencarão 90%.

Recentemente, um de meus pacientes me encaminhou a carta deixada por um dos colegas de seu irmão que cometeu suicídio logo após o início das aulas de pós-graduação:

“A certeza de que eu morreria pelas minhas próprias mãos nasceu comigo, as coisas que ocorreram entre meu nascimento e o dia de hoje só determinaram quando isso aconteceria. Lembro de ter 13, 14 anos e as ideações suicidas já estavam lá. 10 anos depois e nada mudou, sinto que o que eu fiz até agora foi apenas adiar o inevitável. Sempre deixei a ideia ali guardada, pra quando eu não aguentasse mais viver ter uma forma de escapismo eterna.”

Este jovem se despediu para sempre, logo no início de suas aulas, deixando sua carteira vazia e possivelmente muita dor no coração de seus amigos e familiares. Mas questiono: as palavras deste jovem mostram que ele acreditava ser possível adiar o inevitável? Sim.

10 anos depois e nada mudou – 10 anos depois e qual tratamento foi aderido ao longo da trajetória? Quem era o médico psiquiatra? Qual psicólogo o acompanhava? A família aonde estava? A escola não percebeu nada? Em dez anos? Os profissionais não tomaram medidas drásticas que zelassem por seu ambiente e tratamento? Ninguém compartilhou com os familiares os riscos? Medidas necessárias? 10 anos se passaram e nada mudou… mas não mudou por quê?

Suicídio e dados estatísticos

Enquanto não mudarmos de fato, as estatísticas não mudarão

Faça sua parte, faça a diferença. Conscientize-se que:

  • Psicólogo não joga conversa fora, faz tratamento;
  • Psiquiatra não é “médico de maluco”, psiquiatria é a especialidade médica da saúde mental;
  • Remédios psiquiátricos não são feitos para dopar ninguém. O tratamento tem começo, meio e fim quando é aderido corretamente com acompanhamento médico e possui o objetivo o tratamento e estabilização de questões neuroquímicas. Sua função além de otimizar a saúde é auxiliar na funcionalidade do aproveitamento do dia e não o inverso.
  • Sente que algo está errado? Tente conversar, inicie uma conversa, busque apoio profissional, mas jamais carregue dentro de si a dúvida sobre manter-se vivo.
  • Os famosos mitos sobre suicídio? Esqueça-os. Nenhum deles é relevante.

Se você é pai, mãe, professor, tio, avô ou avó de uma adolescente, respeite sua individualidade e subjetividade, evite comparações e busque juntos metas reais e estratégias que estejam dentro do alcance de vocês para que o objetivo se torne possível. As comunicações são falhas. Jamais permita que seu filho carregue dentro de si o desejo de acabar com a própria vida por achar que frustrou alguma de suas expectativas.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com