Remédios psiquiátricos: quais os riscos de não fazer o tratamento?

Mitos e verdades sobre os medicamentos psiquiátricos: qual o risco de não aderir o tratamento medicamentoso? Veja mais sobre o tema no artigo a seguir, e saiba quais cuidados tomar.

Hoje, em pauta, os mitos e verdades sobre os medicamentos psiquiátricos, especialmente o que se refere aos riscos de não se aderir a um tratamento medicamentoso.

Este artigo não visa estabelecer qualquer política de certo ou errado. O objetivo principal é ajudar a discernir, dentre toda a informação disponível e que nem sempre está atualizada, o que realmente pode ser decisivo para a saúde e a qualidade de vida de quem necessita de cuidados com a saúde mental. Quem conduz a reflexão é a psicóloga Maitê Hammoud.

O que são os transtornos psiquiátricos?

Transtornos psiquiátricos são considerados doenças psicossomáticas, nas que existem prejuízos tanto na saúde física como na mental. Por isso, o tratamento multidisciplinar é considerado não apenas eficaz como necessário: a mente e o corpo trabalham juntos, um depende do funcionamento adequado do outro para que seja possível alcançar o bem-estar.

Quando o assunto é preconceito e resistência aos medicamentos psiquiátricos, é importante que a pessoa se abra a alguns questionamentos: qual a diferença entre um diagnóstico de um problema 100% físico, como pode ser uma cardiopatia ou um quadro de diabetes, e um problema que provoca mal-estar físico e psicológico, como pode ser a depressão?

Em ambos há um diagnóstico em base a sintomas, e a prescrição de medicamentos que servem para controlar a manifestação da doença. Se, normalmente, não costuma haver resistência à medicação no primeiro caso, no segundo caso isso pode, sim, acontecer. É importante ter em mente que a psiquiatria é uma especialidade médica assim como qualquer outra, e a preocupação deveria recair em encontrar um profissional de confiança, mais do que questionar o tratamento, já que a prescição de remédios deve visar a otimização da saúde do paciente.

Remédios psiquiátricos: quais os riscos de não fazer o tratamento?

O desequilíbrio dos neurotransmissores

Há uma relação direta entre a manifestação de um transtorno psiquiátrio e o desequilíbrio dos neurotransmissores. Mas o que são neurotransmissores? Para que servem?

Neurotransmissores são compostos químicos produzidos pelos neurônios e que são responsáveis por transmitir informações sobre o funcionamento para diversas partes do corpo. Ou seja, se um dos neurotransmissores está com sua produção anormal (inferior ou em excesso), a transmissão de informações aos outros órgãos fica comprometida, e isso acarreta sintomas e prejuízos.

Os principais neurotransmissores são:

  • Endorfina: considerada o hormônio do prazer, está relacionada com a melhoria do humor, da memória, do funcionamento do sistema imunológico, do controle da dor e do fluxo de sangue.
  • Serotonina: quando liberada, promove sensação de bem-estar e satisfação. Além disso, atua como um calmante natural, ajuda a controlar o sono, regular o apetite e a energia.
  • Dopamina: além da sensação de bem-estar, está associado aos controles motores do corpo. A falta deste hormônio pode contribuir para o desenvolvimento de Parkinson, e seu excesso pode contribuir para um quadro de esquizofrenia.
  • Noradrenalina: é um transmissor excitatório, que favorece a regulação do humor, aprendizado e memória, promovendo, assim, disposição física e mental.
  • Adrenalina: se relaciona com a excitação e costuma ser liberada como um mecanismo de defesa, em situações que envolvem medo, estresse, perigo ou fortes emoções.
  • Acetilcolina: este neurotransmissor está relacionado com os movimentos dos músculos, aprendizado e memória.

Quando existe um transtorno, além de sintomas extremamente prejudiciais como os que caracterizam os quadros de ansiedade (taquicardia, sudorese, vertigem, falta de ar), depressão (indisposição, perturbações no apetite, perturbações no sono) ou do estresse (enrijecimento dos músculos, insônia, lapsos de memória e concentração), o corpo como um todo recebe informações distorcidas e tais prejuízos acabam refletindo no funcionamento da saúde, nas atividades cotidianas e nas relações interpessoais.

Por exemplo, uma pessoa que sofre de insônia tende a ter o humor e a produtividade no trabalho prejudicados, podendo ser mal vista ou cobrada pelo desempenho atual. Uma pessoa que fica sem apetite tende a desenvolver anemia e sofrer os efeitos decorrentes da indisposição. Alguém que tem perda de apetite sexual decorrente da depressão pode ser mal compreendido pela parceira(o) e sofrer conflitos na relação.

Remédios psiquiátricos: quais os riscos de não fazer o tratamento?

Hora de rever o preconceito!

Não se submeter a um tratamento adequado, não apenas favorece o agravamento dos sintomas, como deixa a pessoa cada vez mais vulnerável a outros prejuízos. Todo tratamento tem começo, meio e fim. Se você aceita fazê-lo por completo, as chances de melhora aumentam significativamente.

É preciso encarar os transtornos mentais com muita seriedade. Por isso, tratamos a seguir mitos sobre a psiquiatria:

1) A única forma de tratar transtornos psiquiátricos é através da medicação?

Certamente não, mas é uma das formas mais seguras e acessíveis, ao contribuir a curto prazo para o controle de sintomas e redução dos prejuízos na qualidade de vida. Quando o tratamento é feito corretamente, ele tende a ser breve. Ao abandoná-lo, além de se agravarem os sintomas, qualquer tentativa de solução se vê prolongada.

2) Terei que tomar medicamentos psiquiátricos para sempre?

Apenas em casos de doenças crônicas o medicamento é de uso contínuo. Assim como qualquer outro tratamento, ele possui começo, meio e fim, estimando-se o uso por um período entre 6 meses e 2 anos. O objetivo do tratamento sempre será que não haja a necessidade do medicamento para o funcionamento adequado do organismo. Uma vez que a desordem é corrigida e estabilizada, o processo de retirada de medicação costuma ser gradual.

3) Remédios psiquiátricos viciam?

É importante ressaltar que antidepressivos, neurolépticos e estabilizadores de humor não oferecem riscos de dependência. Os calmantes, contudo, podem oferecer risco de dependência, mas apenas em casos do consumo de doses muito altas, uso inadequado e prolongado desnecessariamente. Como norma, deve ser utilizado na fase inicial do tratamento até que o medicamento principal comece a agir, para que, então, seja feita a retirada gradual.

4) É verdade que o organismo vai criando tolerância aos medicamentos psiquiátricos?

As doses são ajustadas no início do tratamento até a estabilização dos sintomas. A tolerância costuma ocorrer naquelas pessoas que, ao sentirem-se melhor, abandonam o tratamento sem acompanhamento médico e, posteriormente, sofrem recaídas. O ciclo repetitivo de adesão e abandono é o que pode causar a tal tolerância. Quando o tratamento é abandonado, a chance de os sintomas retornarem são 4 vezes maior do que se estivesse continuando com a medicação. E as recaídas tendem a ser mais graves, perdendo os benefícios que já haviam sido alcançados.

5) Remédios psiquiátricos dopam a pessoa?

O objetivo dos medicamentos é justamente o contrário: promover saúde e bem-estar para que a pessoa possua o mínimo de prejuízos possível em sua rotina, mantendo-a ativa. Os medicamentos que podem causar sonolência costumam ser prescritos no período noturno, para não interferir nas atividades cotidianas da pessoa.

Remédios psiquiátricos: quais os riscos de não fazer o tratamento?

Transtornos psiquiátricos têm cura?

Com exceção de doenças crônicas que exigem acompanhamento contínuo para garantir a qualidade de vida e saúde daquele que a possui, transtornos de humor como depressão, transtornos de ansiedade como fobia ou síndrome do pânico, e transtornos de personalidade possuem cura sim!

E muito diferente do que as pessoas imaginam, quando se faz o tratamento multidisciplinar (acompanhamento psiquiátrico e psicológico) a tão esperada “cura” se consolida a curto prazo, entre 6 meses e 2 anos. Mas o mais positivo é que, em poucas semanas, a pessoa já começa a sentir os benefícios, diminuindo grande parte de suas queixas.

Psiquiatria x preconceito

A psiquiatria e seus respectivos tratamentos medicamentosos, embora sejam uma importante ferramenta para os cuidados com a saúde mental, controlando a curto prazo inúmeros tipos de sintomas, ainda sofrem inúmeros tipos de preconceito. Continua sendo mal vista por grande parte da sociedade, seja em decorrência de uma abordagem injusta da mídia ou da má fama dos efeitos colaterais de remédios antigos, que já não caíram em desuso.

Infelizmente, essa carga cultural ajuda a aumentar a insegurança do próprio paciente quanto à prescrição desse tipo de medicamentos, que, e em alguns casos, sente até constrangimento de ir à farmácia com uma receita controlada. É o medo de associar-se a psiquiatria com loucura, hospícios, camisas de força ou tratamentos com eletrochoques.

Sobre métodos antiquados usados anteriormente e que servem para alimentar o preconceito, é muito importante destacar que a realidade atual é outra! Em pouquíssimo tempo, tanto a medicina quanto a ciência avançaram velozmente. Além disso, houve a reforma psiquiátrica, que alterou políticas de saúde específicas para os cuidados com a saúde mental, dando um enfoque muito mais humanizado, justamente para amparar os pacientes em equipes multidisciplinares e garantir que a pessoa consiga usufruir de sua saúde e qualidade de vida livre de estigmas ultrapassados, como o de que “doentes mentais” não deveriam conviver em sociedade.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com