O que é alexitimia?

Há pessoas que simplesmente não conseguem expressar emoções. Porém, isso não deve ser visto como frieza ou incapacidade de sentir. Leia o artigo para entender como se configura a alexitimia.

Não é incomum que algumas pessoas chamem a atenção por sua personalidade extremamente lógica, que carece da expressão e reconhecimento das emoções. Compreendidas como frias, fechadas e, até mesmo, elas são erroneamente rotuladas por aqueles que fazem parte do seu convívio como possíveis sociopatas ou autistas.

Nada mais distante da realidade. Aqueles que apresentam essas características podem sofrer de uma desordem chamada alexitimia. A psicóloga Maitê Hammoud explica melhor o tema:

O que é a alexitimia?

A alexitimia é uma desordem neurológica que afeta o processamento das emoções, fazendo com que aquele que sofre dessa perturbação não consiga identificar e expressar suas emoções de forma consciente e através da fala. Trata-se de um quadro mais comum que imaginamos. Estudos norte-americanos apontam que uma em cada sete pessoas costuma encaixar nos critérios da alexitimia.

Para quem convive com pessoas que sofrem de alexitimia, chega a ser espantoso:

Eles não expressam emoções ao relatar eventos cotidianos, nem mesmo quando se deparam com feitos marcantes ou traumáticos, como pode ser o falecimento de um ente querido.

Quando questionados sobre as emoções que estão sentindo ou sobre o que viveram em determinada situação, o desconforto se faz presente. Não sabem como responder, sentem-se desconcertados e, até mesmo, demonstram estranhamento pela pergunta, que parece ser uma surpresa. É por isso que quem sofre de alexitimia tende a se esquivar de conversas no seu meio social que possam levar ao debate sobre emoções e sentimentos como paixão, ciúmes ou desconfiança, por se sentir despreparado.

As repetidas experiências de incompreensão e constrangimento podem também levar ao isolamento social ou resistência na aproximação de novos amigos.

O que é alexitimia?

O que causa a alexitimia?

O termo se origina do grego: a = não, lexis = leitura e thymos = ânimo ou disposição. Denota uma perturbação neurológica no processamento das emoções, que envolve conexões entre o sistema límbico e cortéx pré-frontal, responsável pela organização dos dados em “categorias”, pelo raciocínio e linguagem.

Pesquisas indicam que aqueles que sofrem de alexitimia viveram os primeiros anos de sua infância em um núcleo familiar desajustado e frequentemente com a ausência da figura materna ou protetora. E isso deixa marca.

Nos primeiros anos de vida, ainda com um repertório limitado de vocabulário, ao expressar alguma emoção, seja de tristeza, alegria ou medo, a criança costuma receber a nomeação de um adulto; por exemplo, ao chorar, tem a atenção de sua mãe com falas do tipo “porque você está triste?”. São essas experiências, aparentemente simples, as responsáveis por ampliar o repertório de memórias, possibilitando a compreensão e expressão das emoções em experiências futuras.

Na ausência desse cuidado durante seu desenvolvimento, a criança é privada de construir tais conexões, impossibilitando a identificação e expressão verbal de suas emoções. Pesquisas indicam que elas, diferente do comportamento habitual, não expressam emoções sobre a separação da mãe, demonstrando-se indiferentes com a presença ou ausência da figura de cuidado.

Vale ressaltar que a desordem não impede a vivência das emoções, mas, sim, a incapacidade de reconhecer e expressar o que se sente.

O que é alexitimia?

Por essa razão, manifestações físicas psicossomáticas, como dores, taquicardia, falta de ar, entre outras, não são associadas a uma emoção que possa estar presente em alguma experiência, motivando preocupações recorrentes com a saúde. Apenas na presença da manifestação de lágrimas, aqueles que sofrem dessa perturbação costumam ser compreendidos por aqueles que os cercam sobre como estão se sentindo.

Diagnóstico da alexitimia e principais características

Existem dois testes que costumam ser utilizados como instrumentos no diagnóstico da alexitimia:

  • TAS-20 (Toronto Alexithymia Scale)
  • PIEN (Programa Integrado de Exploração Neuropsicológica -Teste de Barcelona)

Ambos avaliam funções cognitivas e, no caso da alexitimia, os principais critérios analisados são:

  • dificuldade para identificar e descrever sentimentos;
  • dificuldade para distinguir os sentimentos de sensações corporais decorrentes da atividade emocional;
  • processos imaginativos limitados e estilo cognitivo utilitário, baseado no concreto e orientado para o exterior, também conhecido como pensamento operacional.

Como tratar a alexitimia?

A psicoterapia tradicional, independente da abordagem, não costuma ser eficaz para as pessoas que têm alexitimia, por requerer o diálogo com foco principal nas emoções sentidas. É indicado a realização de psicoterapia em grupo de pessoas mistas (com e sem a desordem), para promover a compreensão da combinação de sensações corporais específicas e, ainda, a troca de experiências que beneficiarão a construção do repertório de memórias afetivas que se encontra defasado.

A prática de teatro e utilizar cores e paisagens para assimilar sensações também são recursos importantes no tratamento e otimização da expressão das suas emoções das pessoas que têm a desordem.

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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com