Suicídio: como prevenir

Não há dúvidas de que é preciso sensibilidade para lidar com uma pessoa com ideação suicida. Porém, é importantíssimo não se omitir, já que 9 de cada 10 casos de suicídio podem ser evitados.

Não sem esforço, o suicídio vem ganhando um olhar mais sensível por parte da população, a partir da compreensão dos estigmas associados ao quadro e, principalmente, pela gravidade dos dados estatísticos. No Brasil, a cada 45 minutos, uma pessoa é vítima de suicídio.

Sim, vítima de seu próprio ato, uma tentativa desesperada de acabar com sua dor. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 9 de cada 10 suicídios poderiam ser evitados, se fornecido tratamento e apoio adequados.

Você tem o desejo de ajudar, mas ainda não sabe como lidar com o assunto? Quer ser um fator de mudança e tentar alterar o curso dos pensamentos de alguém em sofrimento? Entenda como você pode ajudar:

1) Fique atento ao que é dito nas entrelinhas

Assim como você, quem sofre com pensamentos de ideação suicida também enfrenta tabus, tendo muita dificuldade para falar sobre o assunto. Na grande maioria das vezes, os pedidos de ajuda não são expressos de forma tão clara e objetiva, em frases como “estou pensando em me matar”.

Considere como sinais de alerta comunicações verbais e não verbais:

  • alertas verbais: falas que remetem ao fim de sua vida, como “meu desejo é dormir e não acordar mais”, “tenho vontade de sumir”, “quero deixar de ser um peso na vida das pessoas”, “este mundo não tem um lugar para mim”;
  • alertas não verbais: pessoas que passam muito tempo introspectivas enquanto se debruçam em janelas, dirigem em alta velocidade sem se preocupar com questões de segurança, escrevem textos, poemas ou pensamentos deprimidos, fazem desenhos que remetem à presença da morte, entre outros.

2) Falar é a melhor solução

Quando nos deparamos com assuntos delicados, estamos propensos a sugerir alternativas que distraiam aquele que está em sofrimento, e o fazemos com a melhor das intenções. Mas esse curso pode ser traiçoeiro para quem está sofrendo intensamente, cogitando desistir de sua própria vida.

Ao invés de fazer piadas na busca por sorrisos ou propor um passeio para “esquecer dos problemas”, proporcione um espaço para que aquele que sofre consiga compartilhar suas emoções e pensamentos. Isso permite que as dores emocionais sejam aliviadas, e a mente comece a ser esvaziada.

O suicídio seria a “gota d’água” e o espaço que você proporciona ao ouvir sobre o íntimo emocional do outro previne que suas emoções transbordem.

Como ajudar quem pensa em suicídio?

3) Exercite a empatia para não menosprezar o sofrimento do outro

É frequente que, ao sentir confiança para desabafar sobre suas emoções e pensamentos, a pessoa se depare com comentários do tipo “não fique assim, isso é bobagem e logo passará”. Ou então: “você está fazendo tempestade em um copo d’água, isso tudo passará com o tempo”.

Tais comentários servem apenas para reforçar o mal-estar de quem está em sofrimento. A pessoa sente-se ainda mais culpada por suas emoções, o que amplia seu sentimento de incompreensão. Mesmo que não considere preocupante o que vem incomodando quem está sofrendo, são essas as razões que o leva a pensar em desistir de sua vida. Portanto, trate-as com seriedade.

Sofrimento é sofrimento, independente da razão. Exercite sua empatia, acolhendo e demonstrando compreensão, expressando por exemplo: “eu entendo que tudo que você está sentindo e vem passando, é muito doloroso. Como posso te ajudar?”. Desta forma, minimiza-se a sensação de sentir-se invisível, fortalecendo sua identidade, o que aumentam suas perspectivas de futuro.

4) Respeite o tempo do outro

Mesmo em tratamento, questões que desencadeiam sofrimentos tão intensos levam tempo para serem tratadas e estabilizadas. Esse tempo é difícil de ser compreendido por aqueles que não compartilham da dor. Daí advém, apesar das boas intenções, falas de motivação inadequadas, como “você precisa se esforçar mais”.

Respeite o tempo do outro, e ajude demonstrando-se disponível para apoiá-lo em tudo o que for necessário: “independente do tempo que leve, estarei aqui para acompanhá-lo e ajudá-lo”.

5) Busca de apoio profissional

É comum que sejam dadas orientações sobre a busca de ajuda profissional, porém, quando não existem perspectivas de futuro, ao sentir-se submerso em suas emoções, buscar apoio profissional é um passo que dificilmente as pessoas com ideação suicida costumam conseguir dar por conta própria.

Ao invés de dizer: “você precisa procurar ajuda”, tenha uma postura com mais iniciativa. Trate de liderar esse passo tão crucial: “quero ajudá-lo e, por isso, vou agendar uma consulta com um profissional da saúde para você. Se preferir, vou gostar de acompanhá-lo neste momento”.

Mitos sobre o suicídio e prevenção

Esses pequenos movimentos em direção ao acolhimento e empatia podem ser decisivos na prevenção da decisão drástica, que fatalmente resulta o suicídio. São essas pequenas falas e mudanças de postura que são capazes de prevenir os 9 de cada 10 suicídios, como mencionamos no início desse artigo.

É indicado que nos casos de ideações e pensamentos suicidas sejam agendadas avaliações com o médico psiquiatra e psicólogo, para que seja possível direcionar os próximos passos na continuidade do tratamento.

O suicídio ainda carrega muitos mitos, que vêm sendo repetidos ao longo das gerações. Vale à pena ressaltar quais são eles para ampliar sua conscientização:

Mitos sobre o suicídio

  • Pessoas que falam sobre suicídio não têm intenção de se matar, apenas estão em busca de atenção.
  • A maioria dos suicídios acontece sem qualquer tipo de aviso ou sinalização.
  • Somente pessoas com transtornos mentais cometem suicídio.
  • Conversar sobre suicídio pode encorajar o ato.
  • Suicídio é um ato de covardia, de falta de Deus no coração.

Verdades sobre o suicídio

  • A maioria das pessoas que falam sobre suicídio realmente comete o ato.
  • A maioria dos suicídios é precedida por sinais discretos de falas e comportamentos.
  • A pessoa em risco de suicídio apresenta ambivalência entre querer viver e morrer.
  • O comportamento suicida é provável em casos de sofrimento intenso e intolerável, independente da presença de transtornos mentais.
  • Conversar sobre suicídio facilita que a pessoa se sinta acolhida, aumentando suas chances na busca por ajuda.
  • Suicídio é um ato de desespero de quem já não percebe alternativas para lidar com a dor.
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Maitê Hammoud
maitehammoud@hotmail.com